span.fullpost {display:inline;} LN Informa - Blog do Laboratório Nicolau: Lições da Família Toyoda

1 de abr. de 2010

Lições da Família Toyoda

Dezembro de 2007. Festa de fim de ano, no centro de operações da Toyota em Toyota City, antiga Koromo, a 50km de Nagoya. Entre uma e outra dose de sakê, Shoichiro Toyoda, 80 anos, ainda vigoroso, ex-presidente e filho do fundador, o lendário Kiichiro, recebia os cumprimentos. A empresa havia chegado ao topo, era agora a maior e mais rentável montadora do mundo. O Sistema Toyota de Produção estava sendo utilizado desde hospitais até lavanderias.

Discreto, seu semblante denotava preocupação. O que estava acontecendo? Décadas de experiência, tornaram Shoichiro um visionário. Para ele, o que iria acontecer parecia tão óbvio. Apesar de suas seguidas advertências nas reuniões do Conselho, ele notava que seus executivos continuavam insensíveis, arrogantes. Os ensinamentos de humildade, a priorização da qualidade, visando à confiabilidade, pontos essenciais para seu pai, parece que haviam sido esquecidos pela terceira geração. A meta de crescer a qualquer custo é essencialmente perigosa, ele pensou. Mas, não havia o que fazer.

No outro lado do salão, seu filho Akio, vice-presidente executivo e, em breve, futuro presidente, conversava discretamente com um grupo de técnicos, provavelmente, sobre os segredos dos novos lançamentos.

Shoichiro pensou, com um sentimento misto de culpa, tristeza e satisfação, que seu pai havia sofrido os horrores da guerra, viu seu país semi-destruído e ajudou a reconstruí-lo. A segunda geração, a dele, havia sido privilegiada. Os tempos foram difíceis, também, mas todos puderam trabalhar e muito, porém, sem maiores sobressaltos. Todos venceram, e realizaram seus sonhos, muito além do que puderam imaginar. Agora, seu filho iria viver a treva, as oscilações e as incertezas da crise. Tomou mais um gole de sakê. Enfim, pensou, ninguém pode fugir do seu destino. Ao nascer em berço de ouro e ver seus pais enriquecendo cada vez mais, o destino de Akio já estava traçado. Podemos fugir dos credores, dos falsos amigos, dos inimigos, das tentações, dos vícios e até de nossos pensamentos, mas não do que já está traçado. Maktub, como dizem seus amigos árabes, pensou ele.

DE VOLTA AS BASES COM AKIO

Fevereiro de 2010. Madrugada em Nagoya. Shoichiro vê pela televisão Akio, agora o CEO da Toyota, falando à Comissão de Fiscalização do Congresso Americano. Humilde, um pouco inseguro, ele tenta explicar o que está acontecendo com os carros da empresa.
Shoichiro comenta para sua esposa Hiroko:
- Que m....! Mais uma vez estamos abaixando as calças para os americanos!
- Calma! Akio vai saber dar a volta por cima, como nossos pais fizeram, respondeu Hiroko!
- E esses malditos coreanos! Sempre megalomaníacos, comendo sardinha e arrotando camarão. Já estão dizendo que estão na nossa frente. Vamos ter que derrotá-los novamente!
- Quanto mais velho, mas impaciente você fica. Vamos derrotá-los mais uma vez, porém, agora, comercialmente. Akio tem a fibra de seu pai. Apaziguou Hiroko.
- Quer dizer que eu não tenho fibra!
- Não foi isso que eu falei. E deu um beijo no seu marido.

Hiroko estava certa. Ao depor no Congresso Americano, Akio se desculpou pelas falhas de seus modelos top de linha, como o Corolla, o Lexus, o Camry, o Prius o RAV4 e outros, que causaram inúmeros acidentes em todo o mundo. Comprometeu-se pessoalmente de que a Toyota voltará a trabalhar de forma vigorosa e incessante para restabelecer a confiança do consumidor.

A Toyota, fulminada pelo recall de 8 milhões de unidades no Japão, Europa e Estados Unidos, causado por problemas eletrônicos, problemas nos pedais e até nos tapetes, teve um prejuízo de US$ 429 milhões e as vendas despencaram em 1,9 milhões de unidades em 2009. Isto significa o tamanho da produção da Daimler-Benz, uma das 12 maiores do mundo.

Akio foi empossado no meio da tormenta e não perdeu tempo. Trocou toda a velha diretoria, encostou executivos que estavam mofando no poder e chamou gente ainda mais experiente e com pique para o trabalho. No mercado mundial, re-dividiu as operações do grupo, colocando executivos vencedores, com inglês fluente e MBA nos Estados Unidos, como ele. Akio instituiu um estilo duro de gestão. Até para ele. Um amante da velocidade, sempre testou os lançamentos da empresa. No entanto, foi com lágrimas, que anunciou o afastamento da Toyota na Formula 1, por causa dos altos custos. Instituiu um slogan para a sua gestão: “De volta às bases”.

LIÇÕES DA CRISE

É obvio que os trechos em itálico, embora devam estar próximos da realidade, são pura ficção.

Porém, quais as lições que podemos tirar do caso Toyota?

Alguns falaram até em sabotagem. É possível. No entanto, os executivos arrogantes, que já devem estar na rua, esqueceram-se de um dos lemas do velho mestre Kiichiro: “Controle de qualidade total em todas as etapas, desde o recebimento dos componentes, até a entrega do veículo”. O controle de qualidade total elimina fraudes e sabotagens.

Outro erro: crescer a qualquer custo. Com isso, mais uma vez deixaram de lado os princípios que nortearam a evolução e sucesso da Toyota. Pior, quase jogaram no lixo, uma das marcas mais valiosas do mundo, com 70 anos de sucesso.

Na edição de mai/jun de 2008, escrevemos uma matéria com o título “É POSSÍVEL UM LABORATÓRIO TOYOTA?” Continuamos achando possível, desde que se preste atenção em um de seus parágrafos (transcrevo literalmente) :

“Em resumo, os pontos chaves, em um laboratório, para a implantação do Sistema Toyota, além de (IMPORTANTÍSSIMO), uma predisposição e humildade para evoluir, aprender e ensinar (ensinando se aprende muito), em todos os momentos, são....”


               


Danilo Barossi Cury
TPD e Engenheiro de Produção


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